quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Muito mais do que uma imagem: uma história!

    16 de Outubro de 1968. 46 anos atrás. Uma imagem entra para a História!


A imagem abaixo, dois atletas negros fazendo a saudação Black Power, do grupo político radical Panteras Negras, é mundialmente conhecida. O que poucas pessoas conhecem é a história dos homens que fizeram tão corajoso gesto e as conseqüências que eles sofreram durante toda a vida por terem ousado desafiar seu país para dizer ao mundo que os EUA não eram um país democrático e justo.


fato retratado pela imagem foi protagonizado em 16 de outubro de 1968, quando Tommy Smith e John Carlos, respectivamente 1º e 3º colocado na corrida dos 200 metros, resolveram protestar contra o racismo nos EUA no pódio das Olimpíadas da Cidade do México.

Um primeiro detalhe a ser ressaltado é o de que os três atletas que estão no pódio usam no peito, do seu lado direito, um símbolo branco. Era o símbolo do OPHR (sigla em inglês de Projeto Olímpico para os Direitos Humanos). O segundo colocado, o atleta australiano Peter Norman, apesar de branco, resolveu também aderir ao protesto, pois em seu país também havia discriminação étnico-racial contra as populações aborígenes. Norman também arcou com as conseqüências de seu gesto por toda a vida, sofrendo repreensões em seu país.

Uma forma de medirmos a importância dos gestos desses atletas é demonstrarmos como seus países tentaram durante décadas fazê-los cair no esquecimento. Em 2000, durante a Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Sydney, os maiores ex-atletas daquele país foram
homenageados, Peter Norman não era um deles. Até hoje o atleta é o recordista australiano dos 200 metros com o tempo de 20.06 s, que fez para obter a medalha de prata nos Jogos de 1968. Em 1992 durante os Jogos Olímpicos de Barcelona os maiores ex-atletas dos Estados Unidos foram homenageados. Nem Smith e nem Carlos foram congratulados com tal honra. O fato se torna ainda mais absurdo quando sabemos que Smith era um verdadeiro super atleta. Para obter o ouro nos jogos de 1968, ele foi o primeiro homem a correr os 200 metros em menos de 20 segundos, quebrando o recorde mundial com o tempo de 19.83 s. Além disso, Smith chegou a ostentar 11 recordes mundiais simultaneamente, sendo 7 individuais e 4 em equipe. Em 1968 ele era o recordista americano dos 100 metros, dos 200 metros e dos 400 metros. Alguns de seus recordes dos tempos colegiais no Lemoore High School permanecem até hoje. Não participarem das Cerimônias dos Jogos em seus países foi um ato político, em um evento em que os países juram ser apolítico.

Rememorando um pouco da perseguição que os atletas sofreram é necessário contar um pouco do contexto que envolveu o ato de Smith e Carlos. Podemos começar pela história OPHR. O Projeto Olímpico para os Direitos Humanos foi fundado no começo 1967, por vários atletas negros. No seu início o objetivo era organizar um boicote dos Jogos Olímpicos da Cidade do México. O OPHR foi idealizado pelo sociólogo universitário Dr. Harry Edwards. Para os membros do OPHR era necessário expor o modo como os atletas negros dos E.U.A. seriam usados para projetar uma mentira, tanto a nível doméstico e internacional. O Dr. Edwards declarou na época “Não podemos permitir que este país utilize um número reduzido de atletas negros para chamar a atenção do mundo de como ele tem feito grandes progressos na resolução de problemas, quando a opressão racial de afro-americanos é maior do que nunca era. Qualquer pessoa negra, que permite-se a ser utilizado no acima assunto é um traidor. Então, nós perguntamos porque é que devemos correr no México?”

OPHR tinha três exigências centrais: 

1.Restaurar a Muhammad Ali o título mundial, despojado no início de 1967, pois o atleta se negou a ir para à Guerra do Vietnã; 

2.Destituir Avery Brundage do cargo de chefe do Comitê Olímpico dos Estados Unidos. O dirigente foi um famoso branco nazista e tinha apoiado a realização dos Jogos de Berlim, em 1936 na Alemanha Nazista; 

3. apoiar a luta dos negros da África do Sul e Rodésia pelo fim do apartheid; 

Os ideais do OPHR estavam sendo discutidos em um ambiente turbulento e contestador. A década de 60 foi um dos mais elevados e, ao mesmo tempo, contestadores período da história moderna dos Estados Unidos. Uma série de lutas ocorriam como o Movimento dos Direitos Civis dos
afro-descendentes, uma crescente preocupação durante a Guerra do Vietnã e os trágicos assassinatos de Malcolm X e Martin Luther King; a militância dos Panteras Negras e da Nação do Islã. Foi também um período inigualável de luta pela libertação dos países Africano do jugo do colonialismo e de uma grande luta para terminar com o apartheid na África do Sul.

Com o passar do ano de 1967 e o início do ano de 1968 a ideia do boicote aos Jogos perdeu força. Um dos poucos atletas negros que boicotaram as olimpíadas foi o lendário o Kareem Abdul-Jabbar, na época apenas um atleta universitário. Entretanto, permanecia forte na cabeça de Tommy Smith e Jonh Carlos fazer algo pelo seu povo.

oportunidade chegou quando os atletas conseguiram chegar ao pódio no México. Antes sairem da Vila para os jogos, Smith e Carlos já combinavam algo, marcaram de ambos levar luvas pretas para o estádio. Após o sucesso na prova, nos vestiários, John Carlos informou ter esquecido suas luvas. Foi aí que entrou em cena o australiano Peter Norman, que deu a ideia de que cada um usasse uma das luvas de Smith. Além disso, decidiu também participar do protesto, usando o símbolo do OPHR.

Smith e Carlos chegam para a cerimônia de premiação. Havia algo de diferente, os atletas vinham usando meias pretas, sem sapatos. Quando o hino dos E.U.A. começou a ser tocado e as bandeiras deste país e da Australia eram erguidas, Smith e Carlos fecham os olhos, abaixam a cabeça e começam o protesto. Depois, Smith e Carlos levantaram a mão direita, com as luvas pretas e de punhos fechado para representar o poder dos negros na América. Os dois com as mãos levantadas representavam a unidade dos negros na América. O lenço preto em torno do pescoço de Smith simbolizava o orgulho negro e as meias pretas (sem sapatos) representavam a pobreza negra na América racista.

Sem ter a dimensão exata na hora, os atletas faziam o que é provavelmente uma das imagens esportivas mais vistas e importantes da história. O gesto foi pouco entendido no momento, mas logo o mundo inteiro comentava o que os atletas tinham feito.

O vídeo com a corrida e a saudação pode ser visto no seguinte endereço http://www.youtube.com/watchv=ocullaGEnY&eurl=http://felipetaves.blogspot.com/2009/03/salute.html.

ousadia do gesto significou o fim da carreira de ambos. Logo depois que retornaram da prova para o alojamento foram expulsos da Vila Olímpica. Depois, ao retornarem aos EUA receberam ameaças de morte, não conseguiram voltar ao atletismo, tendo que de uma hora para outra conseguir outra forma de ganhar a vida. A pressão sobre eles foi tanta que a mulher de John Carlos se suicídio em 1973.

Devido a esta perseguição durante anos ambos pouco falaram em público sobre o episódio. Tocaram a vida como puderam e Tommy Smith se tornou um doutor em sociologia e hoje vive de dar aulas e palestras. John Carlos virou técnico de atletismo e faleceu em 2006.

Recentemente, em 2007, Smith resolveu romper o silêncio e publicou uma autobiografia intituladaSilent Gesture: The Autobiography of Tommie Smith sem tradução para o português). O livro é uma verdadeira lição de vida. Um homem que tem a total dimensão do que representou seu ato e o narra pela melhor forma de vê-lo em profundidade, como um gesto que mesmo feito por um homem representou a luta de um povo.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

De olho em 2016: conheça Isaquías Queiroz

    Hoje falaremos de uma das esperanças de medalha para os Jogos Olímpicos de 2016. É o canoísta Isaquias Queiroz. Passada a Copa do Mundo de Futebol, o mundo dos esportes vira seus olhos para este evento. E o Mais Um acompanha diversos esportes e vai dar seu pitaco sobre alguns deles.

     O Brasil tem pouquíssima tradição na canoagem. A modalidade é disputada em dois estilos: velocidade e slalom. Isaquias Queiroz disputa no estilo velocidade. São disputadas 3 provas neste estilo nas Olimpíadas (C1 200 metros e C1 1000 metros (individuais) e C2 200 metros (dupla). Antes de Isaquias Queiroz, o nome mais conhecido neste esporte tinha sido Sebastian Cuattrin, um argentino naturalizado brasileiro. Diferentemente de Queiroz, Cuattrin competia no caiaque (K). Ou seja, na modalidade slalon. Cuattrin medalhou em panamericanos e participou das Olimpíadas de Atenas, em 2004.

     Isaquias Queiroz já pode ser considerado o melhor atleta brasileiro na modalidade de toda história. Os olhos da impressa e do mundo se voltam para Queiroz desde 2011, quando ele ganhou duas medalhas nos Jogos Mundiais Junior de canoagem. Nesta competição, o atleta ganhou duas medalhas. Uma na prova não olímpica do C1 500 metros (prata). Outra a medalha de ouro na prova olímpica C1 200 metros. Com esse feito, se tornou o primeiro atleta brasileiro a ser medalhista em um mundial da categoria.

     

     O atleta fez muito bem a transição de júnior para profissional. Em seu primeiro mundial, em 2013 na Alemanha, conquistou duas medalhas. Bronze na prova olímpica do C1 1000 metros. E ouro na prova não olímpica do C1 500 metros. Mais uma vez, foi o primeiro atleta brasileiro a conseguir tal feito. Na transição do júnior para o adulto, o atleta decidiu não competir no C1 200 metros.

    Este ano, Queiroz começou muito bem! Primeiro na etapa da Copa do Mundo de canoagem, ocorrida em maio na Itália, ganhou duas medalhas. Ouro no C1 500 metros. E bronze no C1 1500 metros (não olímpica). No mundial o atleta teve uma participação quase perfeita! Bateu recorde do mundial no C1 500 metros nas semifinais e ganhou o ouro novamente. No C1 1000 metros a medalha de ouro não veio por pouco. O atleta caiu da canoa a poucos metros do final da prova e foi desclassificado. Mas não parou por aí. Visando os jogos olímpicos, o atleta começou este ano a competir com Erlon de Souza na prova C2 200 metros. E a estreia foi excelente! A dupla foi medalha de bronze!

    Ainda faltam dois anos para as Olimpíadas. Mas sem dúvidas, Isaquias Queiroz tem feito um ciclo olímpico excelente e vai se tornando um dos poucos atletas brasileiros a ter chances reais de medalhas em 2016! O Mais Um vai acompanhar a trajetória do atleta!

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

A primeira derrota de Hitler: Jesse Owens e a vitória da humanidade

               
           Em 2013 completava-se 100 anos do nascimento de uma das maiores lendas do esporte mundial: Jesse Owens. Por coincidência, ou não, neste ano estreou no mundo todo o filme “A menina que roubava livros”, ambientado nos anos da 2ª Guerra Mundial. Em uma das cenas as personagens Liesel e seu amigo Rudy protagonizam uma das mais belas partes do filme. As crianças apostam corrida pelas ruas do bairro e Rudy se pinta de carvão para ficar negro, pois seu ídolo era ninguém menos do que Jesse Owens, que poucos anos antes da cena retrada no filme havia derrotado a ideologia nazista nas Olimpíadas de Berlim em 1936.


                Além da belíssima homenagem a este ícone do esporte, a cena nos mostra como muitos seres humanos se recusaram a aceitar a ideologia antiluminista de superioridade racial, que é a base do Nazismo. Um menino ariano no auge do Nazismo sonhando em ser um negro! Esta é uma das várias leituras que podemos ter sobre a vida de Jesse Owens. Inspirador de igualdade, de utopias! O homem que provocou a primeira derrota de Hitler! No último dia 03 de agosto completou-se 78 anos desta derrota.    O ano era 1936 e Hitler estava há três anos no poder e via seu governo se consolidar, criando uma hegemonia nazista na sociedade alemã.  Neste contexto, as Olimpíadas seriam a coroação da superioridade ariana perante o mundo. Hitler havia investido muito para realizar a maior Olimpíadas da história. O estádio de Berlim, por exemplo, era o maior do mundo, com capacidade para mais 100 mil pessoas. Além disso, nesta Olimpíadas Hitler testou seus mecanismos de propaganda, pois o evento começou a ser gravadas e exibidas mundo afora. Mas ao invés da superioridade ariana, Hitler teve que ver atletas negros americanos vencerem diversas provas.
                Os Estados Unidos levaram 16 atletas afro-americanos para as Olimpíadas de Berlim, em 1936, desses 06 ganharam ouro no atletismo. Um deles foi o primeiro a derrotar Hitler, mesmo que simbolicamente, nestas Olimpíadas. Cornelius Johnson venceu a prova do salto em distância, no estádio de Berlim lotado com mais de 100 mil pessoas, diante de Hitler, que para não ter que cumprimentar e premiar Cornelius abandonou o estádio. E não pode mais voltar, pois os atletas afro-americanos dominaram as provas de atletismo, sendo Jesse Owens o maior deles! Vejamos um pouco mais da vida deste herói negro ...
                Jesse Owens nasceu em 1913 em Oakville, sul dos Estados Unidos. Era neto de escravos, filho mais novo de 7 irmãos. Ainda criança, ele e toda sua família mudaram-se para Cleveland, norte dos Estados Unidos, fugindo da opressão racial que imperava no sul daquele país. Essa migração não foi algo especifico da família Owens. Entre o fim da escravidão nos Estados Unidos em 1865 e as primeiras décadas de século XX, mais de 1,5 milhões de afro-americanos migraram do sul para o norte daquele país.
                Jesse Owens foi um atleta espetacular. Desde sua carreira na High School ele simplesmente destruía os recordes americanos nas provas de 100 metros, 200 metros e salta em distância. Em 1928, ele bateu o recorde Junior nacional na prova dos 100 metros rasos. Daí em diante, tal feito seria algo corriqueiro na vida dele. Venceu todas as competições estaduais e nacionais. Na High Scholl bateu o seu primeiro recorde mundial, na categoria junior, no salto em altura, em 1930.  E ingressou na Universidade de Ohio em 1931, aos 18 anos. Não conseguiu bolsa e além de competir e estudar, trabalhava a noite como garçom, como operador de elevadores, como bombeador de gás e numa biblioteca. Mesmo assim, sua carreira atlética seguia brilhante!
                Em 1935, conseguiu o que para muitos até hoje é o maior feito esportista na história. No campeonato nacional americano, Owens bateu 4 recordes mundiais no mesmo dia, com um intervalo de apenas 45 minutos! Consagrou-se vencedor nas 4 provas em que seria medalhista de ouro olímpico: 100 e 200 metros, revezamento 4 x 100 metros e salto em distância. Sendo assim, Owens já chegou nas Olimpíadas de Berlim como uma estrela do esporte americano.
                Nas 4 provas que competiu, Owens confirmou seu favoritismo e venceu. Em nenhuma delas Hitler estava no Estádio Olímpico de Berlim. Os negros norte-americanos dominaram as provas de atletismo e o chefe máximo do Nazismo não queria ser humilhado e entregar as medalhas de ouro. Owens foi o primeiro atleta a ganhar 4 medalhas de ouro em uma mesma Olimpíadas. E assim permaneceu por muitos anos. Apenas em 1984 outro atleta negro, Carl Lewis, igualou tal feito no atletismo.
                Mas as vitórias de Owens não pararam por aí. Ao regressar aos Estados Unidos, ele se deparou com todo o racismo da sociedade norte-americana. Anualmente o maior atleta dos esportes amadores americanos era presenteado com o troféu (ver o nome ... nova pesquisa). No ano de 1936 o premiado foi Glenn Morris, atleta branco vencedor do declato nas Olimpíadas de Berlim. O troféu era entregue numa suntuosa cerimônia na Casa Branca pelo presidente norte-americano. Neste caso, Franklin Roosevalt. Sobre este episódio, Owens escreveu em sua biografia: "É verdade que Hitler não me cumprimentou, mas também nunca fui convidado para almoçar na Casa Branca".
                Neste mesmo ano, a Federação Americana de Atletismo retirou a licença de esportista amador de Owens. O que naquele contexto significa parar de competir, pois só atletas esportistas amadores competiam. Com isso, Owens chegou a correr contra cavalos para conseguir seu sustento. E mais, durante as décadas de 1940 e 1950, quando ainda estava no ostracismo em seu país, trabalhou com jovens carentes em Cleveland.Trabalho que faria por toda a vida. Criou a instituição Chicago Boys, que atendeu mais de 150 mil crianças ao longo da vida de Owens.
                Na década de 50, ele sai do ostracismo público e começa a trabalhar para o estado, sendo contratado Especialista de Esportes do Estado de Illinois. Em 1955 foi nomeado pelo Departamento de Estado nacional como Embaixador do Esporte. No cargo, viajou por diversos países e foi o representante dos Estados Unidos nas Olimpíadas da Austrália de 1956.
                Mas é apenas em 1976, após as lutas por direitos civis dos negros, das quais Jesse Owens nunca participou ativamente, que a lenda vida dos esportes é recebida na Casa Branca. Na data recebe a maior honraria civil nos Estados Unidos, quando o presidente Gerald Ford presenteou-o com a Medalha. Em fevereiro de 1979, retorna para a Casa Branca e é recebido por Carter, que lhe presenteia com o Living Legend Award. No ano seguinte, Jesse Owens falece devido a um câncer no pulmão.

                Considero que Owens é o maior ícone do esporte da história. Suas vitórias nas Olimpíadas de Berlim simbolizaram a luta humana contra a tirania, a pobreza e a intolerância racial.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Quem construiu Tebas, a das sete Portas? Trabalho escravo nas obras para a Copa de 2022

Qual a imagem do Catar que você vê na imensa maioria dos jornais? Possivelmente de extrema luxuosidade. É a fundação Catar patrocinando o Barcelona. Os prédios gigantescos e suntuosos deste território do chamado Emirados Árabes Unidos. O fato de ser o país com a maior renda per capita do mundo. E, agora, a cereja no bolo. O país, sem qualquer expressão futebolística, sediará a Copa do Mundo de 2022 em escolha comprovadamente corrupta. Mas será que esta é a realidade das pessoas que vivem de seu trabalho no país?

Infelizmente, a resposta é não. O jornal inglês The Guardian dando continuidade à série de reportagens "escravidão nos dias modernos em foco" mostra como luxo e pobreza são faces da mesma moeda, pois reportagem do jornal (ver aqui) constatou a existência de trabalho análogo à escravidão nas obras dos estádios da Copa de 2022! Para construir o “fántastico mundo da Fifa” os cataris terão que desembolsar bilhões de reais, fazendo a festa das diversas famílias reais do território, pois são as mesmas que controlam toda a economia local. E o trabalhador que irá construir tais “maravilhas da arquitetura”? Afinal, como tão bem disse Bertold Brecht, no famoso poema "Perguntas de um Operário Letrado": "Quem contruiu Tebas, a das sete Portas?/ Nos livros vem o nome dos reis,/ Mas foram os reis que transportaram as pedras?". Também no Catar, os verdadeiros autores da transformação estão longe da suntuosidade mostrada na TV sobre aquele país.

Centenas de trabalhadores vindos do Nepal, do Sri Lanka ou da Índia trabalham em condições que caracterizam a aproximação com a escravidão. Ou seja, não recebem salários, vivem em condições sub-humanas e tem graves restrições no direito de ir-e-vir. Mais uma vez, o máximo da ostentação e da teconologia convive com o maior grau de exploração! Em apenas dois meses, período da reportagem, foram constatadas a morte de 24 pessoas. Continuando nesse ritmo, até a Copa de 2022 mais de 4 mil trabalhadores perderão a vida!

A entidade máxima do futebol, FIFA, tem centenas de páginas de exigências dos países que irão receber seus eventos, lucra bilhões com o esporte que mais mobiliza seres humanos ao redor do globo e não exige qualquer tipo de protocolo para que o evento cumpra padrões sociais mínimos. No Brasil, a Copa do Mundo já desalojou centenas de pessoas. E o filme se repete no Catar/2022. Tal fato em nada me surpreende, dada a forma como tais eventos são gestados e organizados. O máximo de lucros para os que comandam são sustentados pela exploração do trabalhador. 

Fica a pergunta, até quando?

domingo, 28 de julho de 2013

Lutar, lutar, lutar ... E lutaram, venceram: Atlético Mineiro Campeão da Libertadores 2013!

               No hino do Atlético Mineiro duas palavras se destacam: lutar e vencer. São as palavras que mais se repetem ao longo da música que é entoada euforicamente pela torcida do Galo em cada jogo. Pois bem, a torcida e o time do Atlético fizeram jus à canção e lutaram muito durante toda a Libertadores! Cada jogo no horto era um espetáculo a parte. Honram o nome e a história de 105 anos do clube.
                O Galo não ganhava um título de repercussão nacional e internacional desde 1971. Mesmo tendo times como o de fins dos anos 70 e início dos anos 80. Ou o vice-campeão brasileiro de 1999. Entre os 12 clubes considerados grandes no país era o maior jejum. Entretanto, a falta de títulos nunca foi um empecilho para a torcida atleticana! Nos tempos em que morei em Minas, o Atlético estava na segunda divisão. E mais, no começo do campeonato estava na zona de rebaixamento. Mesmo assim, a torcida lotava o Independência. Ali, percebi que o dito que qualificava o time como “massa” era mais do que verdadeiro! Aqueles sujeitos que individualmente pouco representariam, ao se somarem e acrescentarem o amor ao time formavam algo grande, forte, homogêneo e capaz de crescer, como também se solidificar igualmente a uma massa!
                A torcida atual do Galo sempre teve dimensão das limitações do time nos últimos tempos, quiça décadas. Não era a qualidade técnica do elenco e nem os títulos que formavam a identidade, o elã para formar uma torcida apaixonada. Mas, sim, a luta, a raça de todos aqueles que torcem para o Galo. Pois bem, agora, além desse elã há um time que alcançou o título mais cobiçado atualmente por qualquer clube brasileiro. A alegria de dizer “Galo Doido” ou “Galão da Massa” vai ficar estampada nos rostos de cada Atleticano por muito tempo. E, mais do que isso, caso o tempo empoeire o título, a alegria continuará inexorável. Como diz o hino: “nosso time é imortal!”

                Parabéns Clube Atlético Mineiro! Galo Forte e Vingador!

quarta-feira, 13 de março de 2013

O Barcelona e o jeito 'simples' de jogar futebol

   Poderia falar sobre uma imensidão de detalhes do jogo entre Barcelona e Milan, ocorrido ontem 12/03. Mas falarei de apenas um deles e o que mais me chamou a atenção ontem: a troca de passes rápida e precisa.
   Esse time do Barcelona há anos é marcado por fazer questão de ter a posse de bola. E marcar sobre pressão para obter a pelota quando a mesma está com o adversário. Pois bem, essas duas características do time, aliadas à genialidade de seus jogadores, arrasaram com o time rossonero.
   Dos quatro gols do Barcelona, três foram marcados após recuperar, rapidamente, a bola. O segundo, o terceiro e o quarto gol. Essa rápida recuperação da redonda se alia a uma impressionante troca-de-passes entre três ou mais jogadores, destruindo o sistema defensivo adversário. E mais, toques rápidos, precisos sem que cada um dos jogadores fiquem mais do que poucos segundos com a bola. A regra é dar um, dois ou, no máximo, três toques. Vejamos uma análise de gol por gol.
   No primeiro tento do time blaugrana, o único que não foi feito após uma retomada rápida da bola, o Barcelona trocava passes em busca da hora certa, do momento exato para atacar. Em um momento que a grande maioria dos times buscariam jogo pela lateral, ou fariam troca-de-passes pouco produtivas, o Barcelona ataca e pelo meio-do-campo, na entrada da área. O Milan tinha uma linha de 5 marcadores dentro da área e mais três na entrada da área. Dos 11 jogadores, apenas 1 estava atrás da linha da bola. Como passar por uma linha defensiva assim? Pergunte ao Barcelona! A jogada começa com Iniesta, que toca para Pedro, este de primeira aciona Busquets, que domina e toca na meia lua da área para Messi. O genial tabela com Xavi e coloca no ângulo. 1 a 0! Durante toda a jogada apenas Messi e Busquets tocaram mais de uma vez na bola. E deram, somente, dois toques! Mais um detalhe, quando Messi finaliza, o Milan tem 9 jogadores dentro da área e o time blaugrana tem, apenas, dois. Messi e David Villa. 
   Se com a defesa adversária postada o Barcelona faz assim, imagine ao roubar a bola ... Iniesta retoma a pelota já no campo-de-ataque, avança e toca para Messi, que domina, com mais um toque joga a bola para o lado esquerdo e finaliza. Gol! 2 a 0.
   Segundo tempo. O Milan tenta sair com a bola, Mascherano dividi. A redonda sobra para Iniesta. De primeira para Xavi. Para não fugir a tradição, de primeira para David Villa. Um toque para dominar e, ao mesmo tempo, deslocar o corpo na direção do gol. Um toque para finalizar. 3 a 0!
   Por fim, o resultado classificaria o Barcelona. Mas um gol do Milan reverteria a classificação para o time rossonero. Então, pressão do Milan, que ataca com praticamente todo o time. Perde a bola próximo à área do Barcelona. Contra-ataque. Bola para Messi no meio-campo. Por necessidade ele domina, fica com a bola alguns segundos para que seu time avance e se poste para o contra-ataque. Como em uma aula, um jogador do Barcelona passa pelo lado direito (Alex Sanchis). Dois avançam pelo lado esquerdo (Jordi Alba e Adriano). Messi toca para Alexis.  De primeira, como quase sempre nesse time, ele inverte a bola para Jordi Alba. Dois toques na bola, um para o domínio e outro para o chute. 4 a 0!!!!
   Festa no Camp Nou. A energia contida, junto à raiva devido as desconfianças que colocaram em cima deste time explodem! Quase cem mil pessoas cantam, festejam, celebram a beleza de um jogo que o Barcelona pratica como nenhum outro na história do futebol. 


   Nos quatro gols do Barceloa apenas Messi, no segundo e no quarto gol, e Iniesta no segundo deram mais de dois toques na bola. Nenhum drible para que acontecessem os gols. E, apenas no segundo gol somente dois jogadores participaram do ataque que resultou no momento sublime do futebol. 
   Jogo coletivo. Tanto na troca de passes de que participam praticamente todo o time, como na marcação que envolve, aí sim, todo o time. Ataques verticais em direção ao gol, somado ao famoso não está mais comigo. E, claro, técnica dos jogadores que conseguem colocar em prática tal jogo. 
  Antes de começar a partida, um torcedor do Barcelona disse "nosso time jogando como sabe é invencível". O resultado comprova que ele estava certo!